Obesidade: muito além da balança
A obesidade é atualmente considerada um dos principais problemas de saúde pública no mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), sua prevalência tem aumentado de forma alarmante nas últimas décadas, sendo responsável por uma significativa carga de morbimortalidade global. Estima-se que mais de 650 milhões de adultos em todo o mundo vivam com obesidade, condição que está diretamente associada ao aumento da mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes tipo 2, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, esteatose hepática, alguns tipos de câncer e apneia do sono.
Dada sua complexidade etiológica, a obesidade deve ser compreendida como um fenômeno multifatorial, com determinantes que envolvem aspectos biológicos (ontogenia), evolutivos (filogenia) e culturais. Fatores genéticos, neuroendócrinos, comportamentais, sociais, econômicos e ambientais interagem de maneira dinâmica, tornando essencial uma abordagem multidisciplinar para sua prevenção e tratamento.
Além dos impactos físicos, a obesidade gera repercussões significativas no campo psicossocial. Os indivíduos acometidos frequentemente enfrentam estigmatização, exclusão social, discriminação e um sentimento recorrente de inadequação, o que contribui para o desenvolvimento de transtornos mentais como depressão, ansiedade e transtornos alimentares. A dificuldade de autoaceitação, aliada ao preconceito institucional e interpessoal, compromete a autoestima e o bem-estar subjetivo, aumentando a vulnerabilidade emocional desses indivíduos.
Nesse contexto, a atuação precoce diante de alterações no comportamento alimentar é fundamental. Estratégias de psicoeducação são ferramentas eficazes no processo de prevenção e manejo da obesidade, pois permitem que o sujeito compreenda os mecanismos fisiológicos, emocionais e comportamentais envolvidos no ganho de peso. A intervenção precoce também visa evitar complicações metabólicas, hormonais e psicológicas, especialmente em indivíduos que apresentam fatores de risco ou histórico familiar da doença.
Quando a profilaxia é negligenciada, o quadro pode evoluir para formas graves de obesidade, resistência à insulina, síndrome metabólica, inflamação crônica de baixo grau, doenças cardiovasculares e maior incidência de transtornos psiquiátricos. Estudos mostram que a obesidade grave pode reduzir a expectativa de vida em até 10 a 25 anos, dependendo da presença de comorbidades associadas..
Além disso, é necessário desenvolver um olhar mais abrangente e menos estigmatizante sobre a cirurgia bariátrica. Embora frequentemente considerada como uma “última alternativa”, é importante reconhecer que mesmo indivíduos que ainda não atingiram o grau 3 de obesidade podem apresentar graves complicações físicas e psíquicas. A obesidade pode estar associada a sofrimento psíquico intenso e risco aumentado de morte, mesmo antes da instalação das formas mais severas da doença.
Portanto, compreender a obesidade sob uma perspectiva integrada que abrange aspectos biológicos, psicológicos e socioculturais é essencial para a construção de estratégias eficazes de cuidado, que priorizem a prevenção, promovam a saúde mental e física e combatam o estigma associado ao corpo gordo.
A valorização da saúde integral e o fortalecimento de políticas públicas interdisciplinares devem nortear qualquer intervenção voltada ao enfrentamento da obesidade.
Comentários da comunidade